sexta-feira, 5 de junho de 2015

Crônicas da Marleida




Resgatando o Afeto


RESGATANDO O AFETO




Estamos vivenciando uma época de relações transitórias e superficiais. O ser humano está sozinho, embora rodeado de pessoas.
Houve um tempo em que ninguém tinha onde se colocar a sós. Sempre havia alguém disposto a narrar histórias mirabolantes e crianças interessadas em ouvi-las, com um brilho especial no olhar, para posteriormente tecer fantasias eternas em suas mentes descansadas.
Os indivíduos sentiam desejo em visitar, levando em sua bagagem um abraço ou uma palavra de conforto a quem, geralmente recebia com alegria, sentindo prazer em abrir a porta para os que chegassem, mesmo sem aviso prévio.
Havia disponibilidade para ouvir o outro, sem preocupar-se em dispor de escasso tempo livre para si mesmo e a solidariedade para auxiliar o próximo, sem aguardar retribuição.
As pessoas freqüentavam igrejas para orar, não visando solicitar bênçãos para um grupo tão restrito.
Há uma crise existencial na sociedade contemporânea. O cidadão está inserido em um ambiente letrado e tecnológico, porém estão prevalecendo as relações tumultuadas e traumáticas. Nunca os consultórios psiquiátricos foram tão requisitados como na atualidade. A família que serviu de espelho para os civilistas não existe mais.Os pais possuem direitos e deveres para com os filhos, no entanto na exercem mais o controle sociocultural e ético religioso deles. O mercado, a mídia, “os games”, a informática estão provocando o chamado pensamento acelerado. Os programas de televisão, a moda, os vícios estão ocupando as mentes, deixando-as poluídas, sobrecarregadas, cansadas!
A família está se dissolvendo gradualmente, o organismo familiar se esfacelou, parecendo ter perdido os padrões de referência e se tornando vulnerável aos novos conceitos psicológicos. Os pais demonstram estarem confusos como seres humanos, perderam a instabilidade das relações conjugais. Os filhos, por sua vez, sem controle, não vislumbram a direção.
Para compensar a falta de tempo, os progenitores buscam de todas as formas, mesmo sacrificando-se, satisfazer as exigências da prole, sem perceber que objetos de destaque na mídia jamais preencherão a lacuna da falta de carinho, atenção e de diálogo. Aquele que não consegue atender aos incessantes apelos dos filhos, pela ânsia do consumismo, sente-se angustiado, frustrado e até culpado diante da esdrúxula competição atual.
Este novo cenário doméstico tem criado adultos com dificuldades de impor limites. Crianças e adolescentes passam a maior parte do tempo diante do computador, da televisão ou conectado ao celular... Sozinhos! Egoístas! Não querem ser incomodados.
Ninguém consegue olhar fixo no olho do outro, quiçá por receio de visualizar a sensibilidade alheia. É quase inexistente quem se sinta feliz em receber e ser um bom anfitrião, pois em seu parco tempo de lazer, não quer ser perturbado. Até as igrejas têm sido alvo de buscas por recompensas pessoais, que, quando não satisfeitas, provocam ausências.
Urge uma reflexão e uma conscientização por parte de pais e demais educadores para a necessidade de uma nova visão: a formação do caráter, a sensibilização dos sentimentos, a potencialização das virtudes, resgatando o afeto – que demonstra ser a mola propulsora das ações – o diálogo, o olho no olho, o respeito mútuo, a ética, procurando salientar esforços, elogiando, estimulando, motivando, descartando prováveis emulações e elevando a autoestima.
O indivíduo precisa ser olhado de forma holística e sentir-se acolhido, para que as relações nasçam no respeito ao espaço e ao papel de cada um em um ambiente equilibrado e, acima de tudo, feliz.
“Acima de tudo, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição.”
 (Colossenses 3:14)
Marleida Parreira Rocha - Educadora





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