quarta-feira, 2 de abril de 2014

Terra Fértil




TERRA FÉRTIL


Enio Ferreira

* Dedico essa à Adelaide Pajuaba Nehme (importante cronista - acadêmica da ALAMI)



Na viagem para as ÍNDIAS na qual Pedro Álvares Cabral, no ano de 1.500, acabou foi descobrindo o Brasil, uma das suas treze caravelas recolheu uma senhora que estava num pequeno barco à deriva em alto mar. Ela estava há muitos dias sem se alimentar, com insolação, bem fraquinha, quase morrendo. Os marinheiros cuidaram bem dela e já estava quase recuperada quando chegaram a terra firme. Na alegria e na confusão da chegada ninguém se lembrou daquela senhora. 

A senhora desceu com dificuldades da caravela, se misturou aos índios, foi bem aceita por eles e, recuperada, construiu uma casinha e ficou morando nessa terra que se chamaria Brasil.     

Ela, muito esperta, ia se virando para viver, e de um abacateiro que havia na frente da sua casinha colhia as frutas para se alimentar e trocar por outras coisas de sua necessidade. Vivia sossegada esperando a vida melhorar, mas só uma coisa a deixava nervosa: os indiozinhos subiam no abacateiro e lhe comiam os abacates. As frutas serviam para serem negociadas, não gostava de ser roubada.
         
Uma noite bateu-lhe à porta um velho índio em busca de socorro; fora picado por uma cobra e estava mal. Pediu que ela corresse até um local determinado e colhesse duas folhas de certa planta e fizesse um chá para cortar o efeito do veneno. A senhora obedeceu e fez tudo o mais rápido possível para assim salvar o velho índio. Ele acordou no dia seguinte curado. Despedindo-se, disse que era o Feiticeiro da sua tribo e que ela lhe pedisse o que quisesse.        

Só peço que a pessoa que subir no meu abacateiro não possa descer sem a minha ordem – respondeu a senhora.          

- Se esse é o seu desejo, assim será! – respondeu o índio-feiticeiro.    

Na manhã seguinte encontrou cinco indiozinhos em cima do abacateiro.    

- Oh! Senhora perdoe-nos! Salve-nos, nos deixando descer!   

 Ah! Pois vocês diziam que não eram ladrões dos meus abacates! Por esta vez, vá! Se subirem aí de novo hão de ficar para sempre! Os indiozinhos desceram e nunca mais voltaram ao abacateiro.    

Um dia de manhã entrou em sua casa uma mulher bem feia, nariguda, com uma foice na mão, dizendo: - Sou a Morte e estou aqui para buscar-te!

Já? Estou ainda muito nova e com saúde. Dá-me pelo menos mais um ano! – disse a senhora.   

Não pode ser – respondeu a Morte.

Faça-me ao menos um favor: suba no meu abacateiro e colha-me um abacate. Quero comê-lo visto ser o último! – implorou a senhora.    

A Morte subiu no abacateiro e colheu a fruta, mas não pode descer, pôs-se a chamar a senhora. Esta respondeu: “Não tenha pressa, aí ficarás para todos os séculos. És má e tens feito a tristeza da humanidade...”    

E a Morte ficou em cima do abacateiro.    

A Morte, presa no alto do abacateiro, para conseguir a permissão para descer, teve que fazer um trato com a senhora: Poupar-lhe a vida enquanto ela morasse no Brasil, caso ela saia das terras brasileiras o trato poderá ser desfeito.  

O nome dessa senhora proprietária do abacateiro é Dona Corrupção e quanto mais o tempo passa mais viçosa ela fica.      

Por isso enquanto não for colocada num barco à deriva no meio do mar, como fizeram com ela antigamente algum país decente, Dona Corrupção viverá cada dia mais saudável no nosso Brasil.  

 (Texto adaptado de Tia Miséria - antigo conto português)       

 


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